Senado apura gasto de R$ 2 milhões com selos
Valor desembolsado em um ano e quatro meses daria
para comprar 1,4 milhão de unidades; funcionários já foram afastados depois de
auditoria
Andreza Matais e
Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo
O Senado gastou
quase R$ 2 milhões com a compra de 1,4 milhão de selos - considerando o valor
de R$ 1,20 para uma carta comum - em um ano e quatro meses, mas não sabe o que
foi feito com o material. Uma auditoria, aberta em junho, apura as despesas dos
senadores e da área administrativa com a chamada cota postal. Funcionários já
foram afastados e a distribuição de mais selos, proibida.
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O gasto em selos
seria suficiente para distribuir uma correspondência para cada morador de
Goiânia, com 1,3 milhão de habitantes; ou 18 mil selos por senador. O que
intriga os responsáveis pela auditoria é que não há previsão nas normas da Casa
para a compra de selos.
As
correspondências dos senadores e da Casa são seladas por meio de uma máquina
franqueadora, equipamento utilizado para imprimir o valor da postagem na
correspondência, como um carimbo. Em outras palavras, não há a necessidade de
selos em papel.
Segundo fontes
ouvidas pelo Estado, parte dos selos foi entregue a alguns senadores, que os
requisitaram oficialmente, mas não há registro sobre o paradeiro da maior parte
do material.
O líder do PTB,
Gim Argello (DF), é um dos parlamentares que pediram selos, conforme um dos
envolvidos nas investigações. A família dele é dona de agência franqueada dos
Correios em Brasília. "Não me lembro, não. Foram quantos? Normalmente,
mando carta quando tem aniversário de eleitor, mas não estou lembrado de ter
pedido", afirmou o senador. De uma só vez, em dezembro passado, o Senado
comprou R$ 360 mil em selos.
Moeda corrente. O selo
é considerado moeda corrente. É fácil vender para qualquer empresa que faça uso
dos serviços dos Correios. Cada selo tem um valor, a depender do peso da
correspondência. O preço de envio de uma carta comercial varia de R$ 1,20 a R$
6,40.
O ato que proíbe a
compra de selos foi editado em julho pelo primeiro-secretário do Senado, Flexa
Ribeiro (PSDB-PA), depois de aberta a investigação.
Os senadores não
têm limite para gastos com o envio de correspondências. A norma do Senado, de
1991, diz que cada parlamentar pode enviar duas para cada mil habitantes de seu
Estado, mas não diz qual o volume, o preço ou o peso máximo. O que significa
dizer que não faz diferença enviar uma carta ou um contêiner.
O Senado estuda a
definição de um limite em reais para o envio de correspondências. Procurada
pelo Estado, a assessoria de imprensa da Casa não informou os nomes e o número
de funcionários afastados.
Em nota, o Senado
confirmou a abertura de auditoria, motivada pela "análise dos processos de
gestão", que indicaram, em maio passado, "a necessidade de
reformulação da área encarregada do envio de correspondências e de postagens em
geral".
O Senado explicou que
só após o fim da investigação interna saberá com exatidão o número de postagens
e os gastos com serviços solicitados aos Correios. O contrato da Casa com os
Correios é de R$ 10,8 milhões anuais e já teve dois aditivos no mesmo valor.
De 2011 a 2013, a soma
alcança R$ 32,4 milhões. O Senado informou que este ano, até julho, ao menos R$
4,1 milhões foram pagos, "não computadas eventuais despesas anteriores,
ainda não identificadas".
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