Projeto do governo libera terceirização para todas as atividades
O projeto de lei que regula a
terceirização no país, o PL 4.330, deve entrar em votação na quarta-feira na
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça ) da Câmara após representantes das
empresas, governo e deputados chegarem a um consenso e modificarem alguns
pontos da proposta original feita em 2004 pelo deputado Sandro Mabel.
No
texto do governo, obtido pela Folha e que deve ser adotado pelo relator,
deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA), não há menção expressa a um dos pontos
de maior polêmica entre empresários e trabalhadores: definir e proibir a
contratação de terceiros na chamada atividade-fim (aquela considerada a
principal de uma empresa).
Ou
seja, na prática, o projeto libera a terceirização para todas as atividades.
Exemplo:
em uma fabricante de aparelhos eletroeletrônicos, a atividade-fim está
relacionada à produção do produto (celular, televisão, geladeira). Outras
atividades como segurança, alimentação, vigilância, conservação e limpeza são
chamadas de atividade-meio --e são terceirizadas em boa parte das empresas.
Ainda
não há lei no país sobre terceirização no setor privado, mas a Súmula 331 do
TST (Tribunal Superior do Trabalho) proíbe a prática para atividades-fim.
O
projeto que pode ser votado nesta semana, liberando terceirizados nas atividades-fim,
foi discutido por centrais sindicais, governo, parlamentares e empresários.
Segundo participantes das negociações, o texto tem apoio de 3/4 dos
participantes mesmo após trabalhadores e sindicalistas irem para as ruas contra
o projeto.
Segundo
Ministério do Trabalho e Dieese, há de 12 milhões a 13 milhões de terceirizados
no Brasil, quase um quarto da força de trabalho com carteira assinada.
LIBERADO
Análise
do texto defendido pelo governo, feita a pedido da reportagem para a Anamatra
(associação que reúne os juízes trabalhistas), mostra que, na prática, a
terceirização poder ocorrer em qualquer etapa da cadeia produtiva.
"No
artigo 4º, o texto diz que é lícito todo contrato de prestação de serviços
terceirizados, relacionados ao conjunto de atividades da contratante. A redação
não incluiu a palavrinha 'meio' depois de atividades, portanto pode ser meio ou
fim", diz o juiz trabalhista Paulo Luiz Schmidt, que preside a associação.
Outro
ponto que chama a atenção no texto, segundo ele, é o inciso 2 do artigo 2º.
"O
texto define que a contratada é a pessoa jurídica especializada na prestação de
serviços determinados e específicos. Isso é o mesmo que dizer que uma
fabricante de carros possa contratar uma empresa especializada em pintar os
carros de vermelho, atividade essa que se encaixa na definição de PJ
especializada ", afirma Schmidt.
REPRESENTAÇÃO
SINDICAL
A Folha apurou que um dos pontos de discórdia
também está na representação sindical dos terceirizados.
O texto
do governo favorece as centrais ao propor em que quando empresas terceirizadas
e contratantes forem da mesma categoria, os trabalhadores serão representados
pelo sindicato dos funcionários da contratante.
Quando
as empresas não forem da mesma atividade econômica, o texto prevê que a
negociação coletiva seja feita de forma conjunta pelos sindicatos de
trabalhadores quando houver mais de um.
Isso
significa que podem participar das negociações coletivas entre bancários e
bancos os sindicatos que representam funcionários de outras categorias que prestem
serviço às instituições financeiras --caso de vigilantes e aqueles que atuam no
setor de limpeza.
MAIS
PROTESTOS
As
centrais prometem novas manifestações na tentativa de impedir que o texto seja
aprovado. Sindicalistas informaram que, até quarta-feira (14), querem um novo
acordo para evitar que a lei crie trabalhadores de "segunda
categoria".
Em seu
site, a CUT informa que ainda negocia mudanças no projeto e já mobiliza
"milhares de trabalhadores" para ir a Brasília pressionar deputados a
votar contra o PL.
Amanhã
(13), militantes e trabalhadores iniciam vigília no Congresso e prometem ocupar
o local.
"Da
maneira como está, o projeto traz a desorganização sindical, a redução de
salário dos trabalhadores, à retirada de conquistas sociais. Vamos apostar sempre
na negociação, mas temos de ampliar a mobilização", diz o secretário-geral
da CUT Nacional, Sérgio Nobre.
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